"Hoje eu sonhei com ele. Um sonho limpo e nítido como a água. A mesma água que fica no céu da minha boca e faz meu coração bater mais forte, quando o vê. A mesma água que percorre pelo meu corpo, inunda a minha alma e renova o meu ser. Tê-lo tão perto e ao mesmo tempo tão longe é como se tirassem uma parte de mim, um pedaço do meu coração. Mas todo esse tormendo se transforma em nada quando ele sorri pra mim. E ele sorriu hoje; um dos sorrisos mais lindos que eu já tinha visto fluir de seus lábios e por uma fração de segundos senti a louca vontade de beijá-los intensamente e deixá-lo sentir todo o amor que eu queria dar á ele, me envolver em seus braços e sentir a leveza de seu toque que há tanto tempo eu não sentia. Mas eu não queria o toque de um predador que tinha sede pelo meu sangue, eu queria um toque de amor demonstrando que ele se importava comigo e que notava a minha existência.
O que mais eu teria que fazer para que Franco deixasse de me tratar como objeto de auto uso? Para que meu amor platônico se tornasse minha realidade mais pura e verdadeira? Eu queria saber! Poderia mudar meu tormento particular o tornando meu passado fantasma. Sua voz era uma espécie de eco em minha mente. Ela dizia o que eu queria ouvir, sussurrava as palavras mais doces que alguém como Franco poderia me dizer, mas eu sabia que era apenas um sonho, mas não me importei. Eu aceitei tudo que se passava imaginando-o na realidade.
Caminhávamos pelo bosque lado a lado e ele sempre sorria. Eu tentava disfarçar o que eu estava sentindo naquele momento, eu queria parecer apenas interessada em suas palavras não em seus lábios que me atraiam cada vez que eu os encarava. A brisa soprava levemente meu cabelo e em certo momento Franco se inclinou para mim. Nesse exato momento imaginei os seus lábios nos meus, mas a única coisa que senti foi o leve toque de seus dedos em meu rosto, tentando tirar uma mecha do meu cabelo que insistia em entrar em minha boca. Incentivada pela brisa, sua jaqueta de couro estava aberta e o seu perfume incendiava o ar por completo. Franco estendeu sua mão para que eu a pegasse, me conduzindo a um banco de madeira todo branco.
Estávamos sentados tão próximos que eu podia sentir sua respiração calma e leve como a própria brisa que nos envolvia. Ele encostou suas costas no banco e em seguida virou-se para me olhar. Seu olhar fez com que minha estrutura desabasse. Como ele poderia ter esse poder sobre mim? Como seu simples sorriso e seu olhar sedutor podiam me deixar tão tonta e ao mesmo tempo arrepiada? Tentei disfarçar colocando uma mecha de cabelo atrás da orelha e abaixando o rosto para observar o meu velho e surrado All Star. Continuei a agitar meus pés como se eu estivesse me divertindo tanto a ponto de saltar do banco e correr pelo bosque como uma louca, uma louca apaixonada. Uma louca que daria sua vida pelo seu amor impossível. Mas eu não daria apenas a minha vida. Eu daria tudo por Franco, o meu coração, a minha alma, o meu ser, a minha existência.
Eu estava tão envolvida em tudo aquilo que se passava que nem havia notado que não estávamos mais no bosque sentados no banco, debaixo dos carvalhos. Agora estávamos em um outro lugar, totalmente diferente. No inicio não consegui saber o que era e nem aonde ficava, mas aos poucos minha mente foi se esclarecendo. Estávamos em uma clareira, longe de tudo e de todos. Suas mãos envolviam gentilmente a minha cintura. Finalmente eu estava envolvida em seus braços aonde esperei tanto estar. Franco me conduzia em uma dança silenciosa, seu rosto colado ao meu, eu podia ouvir o sussurro de sua respiração que não estava mais calma, mas sim acelerada como se ele tivesse corrido uma maratona.
Franco se afastou e inclinou-se novamente para mim. "Pronto! Mais uma mecha de cabelo em minha boca", pensei. Mas não havia nada em minha boca, ele não havia se inclinado pra tirar algo do meu rosto, mas sim para me beijar. Seus olhos foram aos poucos se fechando e sua boca se abrindo lentamente, como se ele esperasse que eu me esquivasse, mas não fiz isso. Me mantive intacta, mas por dentro eu queria agarrar seu pescoço, puxá-lo para mim e sentir seus lábios que tanto me atraiam. Franco estava mais perto, eu já podia sentir o doce mel de seu beijo, a delicadeza de suas mãos em minha face. Eu podia senti-lo. Mas eu não senti, todo o meu mundo havia se desfeito em nada, ele não estava mais lá, eu estava só cercada pela escuridão, sentindo apenas o frio toque das minhas próprias mãos em meus braços. Eu me abraçava na tentativa de que ele voltasse. Na expectativa de que um dia ele voltasse pra mim.