segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Desejos Impuros - Parte 2 - O Mistério de Franco Rosenberg

Primeira semana de aula, sexta-feira. Acordei morrendo de sono, e embora eu tenha tomado o café correndo cheguei atrasada no colégio. Peguei o ônibus lotado, meus cabelos estavam uma droga, desci no ponto errado, atravessei três pistas de carro e finalmente cheguei ao colégio. Direcionei-me ao banheiro, onde pude me arrumar melhor. E subindo para a sala me encontrei com a coordenadora Marli, que me aconselhou que eu pedisse para entrar na sala. A primeira vista achei estranho o pedido dela, mas o segui.

Fui até a porta, bate nela três vezes e pedi para entrar. No mesmo momento veio um professor em minha direção e me cumprimentou pelo bom comportamento. Ele parecia estar feliz com o meu gesto, afinal, eu tinha sido a única aluna da sala que pediu permissão para entrar em sua aula. Sorri para ele e sentei na minha carteira. Em seguida ele perguntou meu nome, e anotou na caderneta. Seu nome era Franco Rosenberg, tinha 36 anos e era professor de Redação do ensino médio. Ele tinha pele clara, cabelos castanhos escuros, olhos cor de mel, e dono de uma beleza incomparável, sedutora e imortal. Neste dia ele estava vestido com um terno preto. Bonito e bem alinhado ele chamava atenção de qualquer mulher que passasse por ele.

Durante o resto de sua aula, Franco deixou bem claro o conteúdo que iria dar durante o ano, as suas regras e expectativas sobre o primeiro ano B. Era inacreditável a forma como ele mantinha os alunos atentos e ao mesmo tempo em silêncio na sua aula, poucos professores que ensinavam pra gente conseguiam essa proeza. No final do horário fui falar com Ísis para saber o que havia acontecido. Ela me contou que todos os alunos que entraram na sala sem pedir permissão perderam cinco pontos de qualitativa. Depois dessa respirei aliviada e agradeci a Marli em pensamento por ter me alertado.

Franco era um homem sério, sério o bastante para você não se meter no caminho dele. No início eu não sabia nada sobre a sua vida, mas depois daquele dia comecei a querer conhecê-lo cada vez mais. Dono de uma personalidade forte e de uma disciplina rígida, ele atraia ódio de uns e admiração de outros. E se aproximar de um homem como ele, sim, isso seria muito difícil. Volta e meia, Professor Rosenberg (como gostava de ser chamado) sempre estava rodeado de alunos veteranos, era raro encontrá-lo sozinho. Apesar da sua discrição em relação aos alunos, ele nunca omitiu o seu favoritismo pelas alunas das séries mais avançadas, o que me fazia ter certo ciúme delas já que tinham muito mais acessibilidade a Franco, do que os alunos do primeiro ano.

domingo, 14 de novembro de 2010

Desejos Impuros - Parte 1 - Primeiro Dia de Aula

Era meu primeiro dia de aula no colégio novo, cheguei de carro. Meu pai fez questão de me levar até lá, àquela situação era desconfortante para mim, ainda mais quando a minha mãe desceu do carro e resolveu me acompanhar até a sala de aula. Passei pelos corredores do imenso colégio com olhar meio desconfiado, rostos novos e desconhecidos passavam por mim. Mesmo tendo uma pose de aluna séria e recatada, por dentro eu estava "rezando” para ser aceita naquele novo lugar. Passamos por várias salas, umas cheias de alunos outras quase vazias, aparentemente a galera parecia ser alto-astral, era aquilo que eu precisava.
Entretanto, lá no fundo eu sentia falta da minha antiga cidade, das velhas amizades. Eu não tive escolha, fui quase arrastada de lá para vir morar nesse fim de mundo. Respirei fundo, enfim chegamos à sala em que eu iria estudar pelo resto do ano. Parei na porta da sala e me despedi da minha mãe, que me abraçou e me deu um longo beijo no rosto, dei um sorriso amarelo de volta para ela e acenei ao vê-la descer as escadas. Agora sim, eu poderia entrar na sala sã e salva das caricias da minha mãe. Coloquei minha mochila azul marinho do ano passado em cima da carteira e me sentei. Olhei através da porta e comecei a pensar: Primeiro dia, novata, novos amigos, novas expectativas e metas para serem alcançadas. Era incrível como o meu coração estava  eufórico, mas mesmo assim mantive meu comportamento.

Foi então que Tia Lucimar entrou na sala. Uma senhora de quarenta e poucos anos de idade, pele parda, longos cabelos castanhos, com uniforme de funcionária e estatura mediana. Ela pediu para que os alunos se dirigissem para o estacionamento onde estava sendo realizada a festa de boas vindas (festa de boas vindas, essa é “boa”). Desci as escadas, encostei-me a parede e fiquei a observar. Nada fazia sentido, eu estava perdida ali. Vi pessoas se reencontrando, grupos de amigos conversando e eu era nada mais que uma intrusa naquele lugar. Meu desejo era de ir embora, mas para onde eu iria?

Ainda triste e pensativa, olhei para o lado e reparei que havia uma garota encostada na parede tão frustrada quanto eu naquela situação angustiante de novata sem amigos. O nome dela era Ísis, tinha estatura média, olhos castanhos, pele parda e estava com os cabelos presos naquela manhã. Olhei para ela, tentando descobrir uma forma de iniciar uma conversa amigável, foi então que veio em minha mente a frase que a minha mãe sempre me dizia quando eu era menor: “Menina, não fale com estranhos!”. Cheguei achar engraçado (cômico), mas naquele momento eu precisava ignorar seu conselho. Conforme eu me aproximava dela seus olhos foram se arregalando num tom de espanto, talvez estivesse com medo, mas mesmo assim resolvi começar um diálogo. Ela era do Rio de Janeiro, e tinha acabado de se mudar para Camaçari. Possuía uma opinião forte, e ainda assim era divertida. Parecia que iríamos nos dar bem.

Finalmente tocou o horário e fomos convidados a subir para as nossas respectivas salas. Ísis era de outra sala, me entristece. Resolvemos falar com a coordenadora e esta logo deixou Ísis trocar de sala. Mal chegamos juntas em nossas carteiras e começamos a conversar. Voltei meus olhos rapidamente para a porta e notei que finalmente havia chegado à professora do primeiro horário. Seu nome era Amanda, alguns alunos a reconheceram como a antiga professora de Redação da oitava série. Ela era legal, não passou dever no primeiro dia de aula, já subiu no meu conceito (brincadeira). O resto do dia foi bom, conhecemos os professores de matemática, geografia e história. E nenhum deles passou dever pra casa. O primeiro dia de aula resumiu-se em apresentações e reencontros. Lembro que eu e Ísis passeávamos pelos corredores do colégio enquanto olhávamos os gatinhos do segundo ano passarem, mas nenhum deles havia chamado a minha atenção, até agora.